Caso Richthofen: A importância da perícia forense para a elucidação do crime
O caso de Suzane Von Richthofen envolve um crime que chocou o país. Este episódio destacou a relevância da perícia no sistema jurídico, mostrando como a análise técnica e científica desempenha um papel fundamental na busca pela verdade real.
O crime teve uma grande repercussão nacional por intermédio da mídia no ano de 2002, e tem repercussão até os dias atuais, inclusive com atual lançamento do filme “A Menina que Matou os Pais – A Confissão (2023)”, inspirado no caso. A fama se deu por ser um caso rico em detalhes e complexidade e, acima de tudo, por ser um crime brutal, evolvendo uma família de classe média alta, na cidade de São Paulo.
O crime
O caso parte do assassinato de Mafred e Marísia Von Richthofen na madrugada de 31 de outubro de 2002.
Suzane, filha das vítimas, juntamente com seu namorado Daniel e seu cunhado Cristian Cravinhos, seguem em direção a casa dela, pouco depois da meia noite. Suzane entrou com o carro pelo portão eletrônico. Dias antes, ela já havia desligado o sistema de câmeras de segurança e alarmes da casa.
Quando os três entram na casa, os irmãos cravinhos executam as vítimas enquanto dormiam com golpes de barra de ferro na cabeça. O crime foi premeditado por Suzane, com ajuda dos irmãos Cravinhos, pelo menos dois meses antes da execução. Segundo os acusados, o que motivou o crime foi o fato dos pais de Suzane não apoiarem seu namoro com Daniel, principalmente pela diferença de classe social entre os namorados.
A simulação de latrocínio
A perícia forense é uma ferramenta crucial para a investigação de crimes, em especial nos crimes de homicídio, auxiliando na descoberta do modus operandi do delito e, até mesmo, na identificação dos autores do crime, como no caso Richthofen.
No caso em questão, a perícia não encontrou muitas dificuldades em solucionar o mistério, pois o crime não teve uma execução muito feliz e, na tentativa de esconder os fatos, os réus deixaram pistas e vestígios. A polícia então, facilmente identificou que o crime teria sido cometido por pessoas próximas ao casal, que teriam fácil acesso à mansão da família. Por isso, em determinado momento, com base em provas técnicas e evidências, a polícia concluiu que os autores não poderiam ser mais ninguém senão eles mesmos.
O principal erro amador cometido pelos acusados foi tentar simular um latrocínio – roubo seguido de morte – que, em verdade, contribuiu para que a polícia chagasse até o nome deles.
Para completar a encenação, os três espalharam livros pela biblioteca e também entraram pela janela da sala, a fim de deixar marcas de tênis. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina da casa e tudo que foi utilizado no crime foi colocado em sacos de lixo.
Diante de tudo isso, é possível verificar que Suzane e os irmãos Cravinhos tentam desviar a atenção da polícia, mas são facilmente desmentidos diante de sua “falta de experiência de assassinos”.
Além disso, a frieza da jovem Suzane, durante as investigações intrigou a polícia, despertando desconfiança por parte da delegada do caso.
A confissão se deu após Cristian Cravinhos comprar uma motocicleta à vista em dólares, no dia seguinte ao crime. O fato chamou atenção por terem sido subtraídas notas de dólares da mansão, no dia do crime. Cristian era usuário de drogas e não conseguiu explicar a polícia, em seu depoimento, a origem deste dinheiro. Portanto, foi o primeiro a confessar o crime.
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A perícia e o desfecho do crime
O primeiro contato com o assassinato do casal foi feito pelo perito criminal Ricardo Salada, na madrugada do dia 31 de outubro de 2002.
Ao longo das investigações a perícia descobriu um fundo falso no armário do casal de onde foi subtraído objetos de alto valor. Com isso, a perícia concluiu que apenas alguém íntimo da família poderia ter conhecimento do esconderijo. Também, chamou a atenção da perícia uma jarra com água e sem copo, no criado mudo de Marísia.
O perito notou também que apenas a biblioteca e o quarto do casal estavam revirados, indicando um possível latrocínio – roubo seguido de morte – cometido por alguém próximo à família, que conhecia de maneira detalhada a casa, e onde se encontravam os objetos de valor da família.
Por sua vez, em seu depoimento, Suzane diz a polícia não ter mexido em nada, mas afirma ter visto a pasta onde o pai guardava dólares e euros com o fundo cortado. No entanto, o perito constatou que apenas uma pessoa que tivesse mexido na pasta poderia ter feito tal afirmação.
Sendo assim, encurralados com as análises da perícia, Suzane e os irmãos Cravinhos confessaram a autoria do crime. Após uma semana, foi realizada a reconstituição do crime apresentando mais detalhes que, até então, a perícia desconhecia. Sendo assim, com amparo da perícia, foi possível chegar-se ao nome do trio responsável pelo homicídio, tendo sido denunciados pelo Ministério Público e posteriormente, condenados.
O julgamento dos acusados
No dia 05 de junho de 2006, os três réus foram julgados pelo crime de homicídio qualificado.
Com o término do julgamento Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos de reclusão e 06 meses de detenção e Cristian a 38 anos e seis meses, com base no artigo 121, §2o, inciso I que é imputado quando o homicídio ocorre mediante paga ou promessa de recompensa, ou por motivo torpe, o inciso III, que é imputado quando ocorre com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio cruel, e o inciso IV que é mediante traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido.
Os réus ainda foram condenados com base no artigo 347, parágrafo único, que diz que a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, com o intuito de induzir o juiz ou o perito a erro.
Além disso, Daniel e Cristian também foram condenados pelo artigo 155 do Código Penal, ou seja, furto.
Hoje, 21 anos após o crime, Suzane e Daniel estão em regime aberto. Cristian, por sua vez, teve garantido o benefício do regime aberto, mas acabou sendo acusado do cometimento de novos crimes e, atualmente, se encontra no regime semiaberto.
Conclusão
O caso Von Richthofen foi um crime rico em detalhes e complexibilidades. No entanto, a perícia teve papel fundamental no desfecho.
Com base em todos os dados fornecidos pela perícia, os réus acabaram por confessar o crime. Na reconstituição de cena, conduzida pela perita chefe do DHPP Jane Maria Belucci, foi revelado detalhes importantes desconhecidos pela polícia.
Desta forma, a perícia concluiu o relatório do inquérito policial, o que foi fundamental para que o Ministério Público realizasse uma denúncia forte e fundamentada em provas, levando à condenação.
Crimes bárbaros acontecem diariamente no país, e na grande maioria dos casos, os réus não confessam sua autoria. Desse modo, a perícia tem o papel de investigar de maneira detalhada o caso, descobrindo a autoria do crime, suas causas e circunstâncias, a fim de que o Ministério Publica promova a denúncia com base no composto de provas periciais. Por derradeiro, concluímos que o papel da perícia criminal é a busca da verdade real no processo criminal, atuando não só como auxiliar da justiça, mas, muitas vezes, como peça chave para a conclusão de um processo.
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